Ex-jogador e atualmente assistente do departamento de futebol do Vitória, Flávio Tanajura, natural de Jequié (BA), atuou profissionalmente de 1992 à 2005. Passou por clubes como Bahia, América (MG), Sport, Flamengo e Paysandu, mas fez história no Rubro-Negro baiano.
Jogando no Vitória Flávio Tanajura foi campeão baiano em 1995, 1996, 1997, 1999 e 2000, além de ser bicampeão da Copa do Nordeste em 1997 e 1999.
Em entrevista exclusiva ao Galáticos Online, Flávio Tanajura conta um pouco de sua carreira, conquistas, decepções, o desafio de atuar na direção do clube e os projetos para o futuro.
- Seu primeiro clube na carreira foi o Bahia, mas porque você teve uma passagem tão rápida pelo Tricolor?
Na verdade eu comecei tarde, comecei com idade de juvenil e na época eu cheguei no Bahia e encontrei Mota, que me acolheu e me deu a primeira oportunidade no futebol, lá fiquei pouco tempo, joguei uma partida no profissional no final de 91 contra o Atlético (PR) com apenas 16 anos e nessa transição o Mota tinha saído do Bahia vindo aqui para o Vitória para a divisão de base e trouxe alguns atletas com ele já que estava com a liberação e tive uma divergência porque nesse jogo contra o Atlético (PR) precisava de uma assistência médica, além disso o Bahia pagava a escola que eu estudava e estava há dez meses sem pagar, ficando uma situação constrangedora dentro do local, as pessoas cobrando, então o ex-Presidente do Vitória me convidou para vir pra cá, o Mota estava com meu atestado liberatório e acabei fazendo essa opção, junto com minha família e cheguei aqui em fevereiro de 92.
- Foram oito anos e meio de clube (Vitória). Quais os três momentos mais marcantes de sua passagem pelo Rubro-negro?
Bom, fizemos um bom trabalho na Copa São Paulo com Dida, Alex Alves, Vampeta, entre outros, o treinador era o Péricles Chamusca; Em 93 treinava no profissional, não tive a oportunidade de jogar, mas fomos vice-campeões; Entre 95 e 97 fomos tricampeões baiano.
- E os dois momentos que te marcaram negativamente?
Marcos negativos geralmente são as perdas de título, mas em 94 quando atuava como profissional, mesmo tendo idade de juniores, não me levaram para aquela final contra o Bahia e o Raudinei acabou marcando o gol do título; A queda em 2010 aqui junto com o Antônio Lopes no empate com o Atlético (GO), mas isso marca nossas vidas já que não vivemos apenas de vitórias, mas Deus tem nos abençoado em conseguir mais momentos felizes.
- Você é o ex-jogador que mais vezes vestiu a camisa do Vitória, 323 vezes. Alguém já superou essa marca?
Não, creio que não. Alguns atletas tiveram bastante jogos aqui, o Ramon, o Fernando, mas essa marca ainda não chegou a ser batida.
- Em sua passagem pelo Vitória você teve apenas uma expulsão. Quando foi e como ocorreu?
Rapaz, eu nem lembro. Na época o ex-Presidente pegava no meu pé porque ele queria que eu fosse um zagueiro mais viril, mas eu procurava não ser desleal, porém sou um atleta de Cristo e sempre procurei manter um ética dentro do futebol. Nunca fui de briga, não tive um momento marcante assim. Se não me engano fui expulso em um jogo contra o Atlético (PR) lá em Curitiba mas porque eu revidei uma agressão que sofri dentro da área, quando tive a oportunidade de dar um carrinho nele e o juiz me expulsou.
*O jogo ocorreu no dia 07/10/1996. O Atlético (PR) goleou o Vitória por 4 a 1 e Flávio Tanajura acabou sendo expulso pelo árbitro Wilson de Souza Mendonça.
- Hoje você atua junto com a direção do Vitória. Era um objetivo chegar a um posto interno no clube?
Para falar a verdade eu não pensava, mas quem falava muito que eu tinha o perfil era muita esposa, mas como passei minha vida toda como atleta, passei minha carreira toda e depois fiquei na comissão técnica, mas nunca tive uma oportunidade administrativa. O Alexi me deu a oportunidade, o Falcão teve a visão para o determinado cargo, o Epifânio também, então eles me ajudaram, contribuíram, o Maneca também me ajudou bastante, então nossa vida sempre foi pautada em pessoas que nos ajudaram em evoluir e crescendo na profissão.
Agora estou me dedicando, estudando muito, o clube está investindo muito em mim nesse sentido, estou fazendo um MBA de Gestão Esportiva e cheguei a me formar na Pós-Graduação em Fisiologia Esportiva.
- Em 2013 você irá trabalhar em conjunto com Raimundo Queiróz?
Sim! Ele é um cara experiente, foi presidente do Goiás bastante tempo, tem um perfil e estou formando minha nova filosofia de trabalho, mas não só com ele, mas também com Mário Silva, que está me auxiliando e nessa área nova tenho pessoas como referencia administrativa.
- Qual foi o grande pecado do Vitória na série B de 2012?
Estou revendo alguns acontecimentos que se ocorreram aqui no clube, mas sem dizer que refletiu diretamente no campo. O futebol é um agregado de acontecimentos, mas houve um desgaste com a imprensa, torcedor e algumas coisas que fogem do nosso alcance, mas algumas coisas que diferenciaram daquilo que era o normal. Foi se falado a alguns atletas terem reivindicado um valor de premiação e eu estou aqui dentro e posso te garantir que não houve isso, foi pura especulação, nunca existe isso e isso desgastou a relação dos atletas com os torcedores, inclusive com aquele fato lamentável no aeroporto.
O Vitória sempre teve um planejamento, desde que entrei no clube em 2007 recebemos o salário em dia, mas infelizmente tem essa relação passional do torcedor com os atletas, com o clube e isso foi prejudicial. A equipe acomodou um pouco, uma série de coisas, contusão, perdas de jogadores chaves, falta de peças de reposição, poucos zagueiros, sentimos falta de um meia-atacante que chegasse mais para fazer a transição com o ataque. Infelizmente não acertamos em tudo e esse conjunto de coisas fez com que o Vitória não fizesse o campeonato dos sonhos, tivemos perto do título, mas escapou de nossas mãos.
- O Vitória teve agora quatro jogadores convocados para a seleção brasileira sub-20. Isso significa que o clube segue forte nas divisões de base.
O Vitória tem uma credibilidade e respeito no Brasil devido a sua filosofia no investimento com as divisões de base, temos jogadores revelados aqui hoje na seleção principal como o Hulk e o David Luiz, enfim, tantos outros como Dida, Vampeta e hoje continua. Apesar do investimento altíssimo que outros clubes fazem o Vitória continua sendo um celeiro de craques.
- Além do plantel, o que precisa ser mudado, repensado?
A gente está trabalhando mesmo antes de ter terminado o campeonato, vínhamos planejando 2013, algumas coisas o Vitória tem crescido no futebol brasileiro que é o planejamento estratégico, algumas ações que ajudam no futebol como a melhora da sala de musculação, a concentração. A gente ouve todo mundo para que possamos estar planejando e entendendo o futebol como um negócio e assim poderemos ter um Vitória mais forte.
-Deixa uma mensagem ao torcedor do Vitória que está feliz pelo retorno, mas fica sempre com aquela preocupação quanto ao futuro.
Bom, primeiro queria agradecer aos torcedores por tudo que fizeram, principalmente no último jogo. Fico feliz em ver o torcedor beijando o escudo, vibrando, comemorando. A torcida tem crescido muito nos últimos vinte anos e estamos trabalhando para poder estruturar ainda mais e tornar um Vitória cada vez mais forte no cenário nacional. Quero falar que o Vitória está em uma posição de mudança de mentalidade, a mudança de uma cultura e está crescendo a cada dia.
O torcedor quer sempre títulos, também queremos, mas sabemos das nossas limitações quando enfrentamos clubes com outros investimentos, mas queria convocar o torcedor para que continue confiando, amando o clube e tentando contribuir da melhor maneira possível. O torcedor do Vitória hoje está mais confiante e queremos retribuir isso, pois o torcedor é reflexo do time em campo e queremos montar um Vitória cada vez mais diferente, parecido com o sonho do nosso torcedor, mas precisamos contar com nosso torcedor e que ele possa ter consciência da sua força dentro do clube.